Código html Google estatísticas

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Entrevista com o Quinto Noturno

O que é ou quem é o Quinto Noturno?

Há duas possibilidades. Ignace Xavier Joseph Leybach, compositor do século XVII, compôs o “Quinto Noturno”. Tratava-se de uma obra de imenso prestígio em sua época, mas ela não sobreviveu ao tempo. É pouquíssimo conhecida. Quase rara. A segunda possibilidade é dar o título a este autor que vos fala. Alguém que acredita ter algo a partilhar, mais do que simplesmente dizer. O Quinto Noturno é a pessoa escalada para assumir seu posto de trabalho dentro de uma delegacia em um horário que vai das 4h30 da madrugada às 7h. É uma escala informal dentro dos plantões em delegacia. Mas quem trabalha neste horário pega a transição entre a noite e o dia. Um espetáculo glorioso que nossa rotina aprende a desconsiderar. Mas, o Quinto Noturno não. Assim, ficam as sugestões de escolha. Se os textos puderem acrescentar algo, excelente. Porém, não seria de todo mal acrescentar à memória de uma pessoa, junto com a expressão Quinto Noturno, a lembrança de uma melodia que fez a trilha sonora em diversos salões e seus balés, flertes, e, o principal, vidas. Ouçam o Quinto Noturno, sua melodia e suas palavras.


O que você acredita que possa escrever a ponto de interessas outras pessoas?

Dar sentido às vidas, às incoerências, é exercício quase necessário quando se acorda de um sono ruim, às quatro da madrugada, para ficar à espera de alguém com problemas. Uma delegacia é um breviário de problemas. E ela também está ali para, de alguma forma, resgatar o significado da vida das pessoas. Entregar seus problemas a uma delegacia é sempre uma tentativa de resgate, de voltar a ter um controle sobre a própria vida. Claro, fantasia que dura só até o momento da burocracia dar seu recado de como é a vida real, ou surreal, no sentido kafkaniano. Delegacias de madrugada são laboratórios sem comparação para vasculhar as razões da vida. Avanço um pouco ao tentar rascunhá-las, sob uma ótica de uma vigília obrigada, profissional. O ponto de vista do Quinto Noturno é o pequeno problema diante de todos os temas. Afinal, toda a vida, em si, é uma luta contra pequenos problemas, com a persistência de nossa ignorância tentando dilatá-los.

Quais os temas que lhe interessam?

Todos os que me façam sentir náuseas. Meu processo criativo é a náusea. A vontade de expelir algo que mexe comigo. E não necessariamente eu saiba. Escrever é curar a náusea. Será que Sartre falou isso alguma vez...rrsss...?


Você se baseia em fatos reais para seus posts?

Sempre. A vida me afeta sempre me afeta. Mas fala sobre as tais afetações. Escrever é a vida de forma indireta.

A finalidade do blog é apenas filosofar? Como surgiu a ideia?

A grande surpresa: o blog surgiu para dar visibilidade a um livro em construção, cujo título provisório é Escalado. Mas a ideia foi tomando vida própria. Então, o livro, que é de um amigo, passou a concorrer com o blog. Gosto desse ambiente competitivo. Aguardem, a primeira parte do livro, ainda em construção, ficará disponível em breve.

Agora que começou, o que pretende para o futuro?

Nada. Além de repetir a entrevista em um ano e desdizer tudo o que disse até o momento. O Quinto Noturno é um estado de vigília, mas também de sonho, letárgico. E nunca sofri de sonhos repetitivos. Aliás, sofro, sim. E sempre é de um avião caindo. Que venham muitas quedas, porque o voo precisa subsistir.

Nenhum comentário: