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sábado, 19 de março de 2011

O EMBUSTE DAS GRANDES TRAGÉDIAS

Eu vi a onda do desespero. Já a tinha visto antes. Em imaginação. Mas a grande onda tinha a velocidade das criações de minha era, tudo rápido e superlativo. Arrebatamento e barulho. O tom caudaloso das impressões da sociedade espetacular, espetaculosa.

E era que eu esperava do desastre que me anunciaram na chamada da TV. Mas a frustração iminente se anunciou nas palavras demais do repórter e nas imagens de menos. A dolorosa tonelada de água era lenta e portentosa. Lenta demais para nossa era do instante envelhecido. A tragédia é uma lenta melodia, irreversível.

Assim, fiquei me consumindo em ilações sobre o segundo da tragédia. Que é muito, muito elástico. Nossas tragédias pessoais têm medidas cronológicas tais e quais o tsunami que tem desaguado nos nossos noticiários e invadiu a terra do sol nascente.

Nada de alertas e desmontes escandalosos. Não. É uma tromba d´água caudalosa que se projeta lentamente, em um ritmo constante e envolvente. Mas cujo recuo é impossível. Assim, sem percebemos, o leito de nossas vidas é alargado por uma correnteza sem torpeza, mas com determinação certa, reta, irrevogável.

E o instinto de sobrevivência nos vulnera. Porque todos damos aquela esticada no pescoço, já dentro da tromba de água, na busca do precioso oxigênio. Qual nada...é o embuste da tragédia: sorvemos o que nos padece para dentro dos pulmões, vivendo o drama do peso de um tronco abarrotado da trágica água que nos devasta.

Ah como são lentas as nossas tragédias. Corre vida!

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