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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

DEVERIA TER DORMIDO COM MEUS PESADELOS

Balcão vazio. Fantasmas recolhidos em minha memória. Turno solitário. Chance de escolher entre lutar com o sono vendo um filme ou burlar regulamentos dormindo de olhos abertos. Olhei a caixa cheia de títulos embaixo do balcão – cópias falsas de filmes, apreendidas e depois esquecidas em meio toda tralha confiscada que se deposita pelos cantos de uma delegacia. Eu vi um filme.

Quanto terror em nossos sentimentos não responde pelo nome certo, de terror?

Pois a delicadeza do que vi me injetou terror em estado bruto. Terror intravenoso. É o contraste do belo. Um purgante que desarranja a mesmice dos nossos reflexos. O filme atende pelo sugestivo nome de “Once”, ganhou Oscar de melhor canção “Falling Slowly”, em 2008.

Não espero que você goste do filme.  Não escrevo sobre a obra. Escrevo sobre o tumulto insano provocado pela beleza. Jean Luc Godard, cineasta francês integrante do movimento conhecido como “nouvelle vague”, disse em uma de suas obras: “A beleza é o início de todo o terror que o homem pode suportar”.

E o cenário não seria mais propício à minha capacidade de suportar o terror. Percebi que mais me assombram meus fantasmas quando estão ausentes, porque me deixam à deriva em minha solidão. E sendo torpedeado pelo belo que me açoita, cravo unhas em móveis próximos para não ser sugado para dentro do labirinto dilacerador da beleza.

O filme ainda passa na minha cabeça. O surto angustiado, felizmente, dissipou-se. Não de forma voluntária. Só depois de que me agarrei à certeza, firme, de que a verdadeira beleza não se repete...

...Deveria ter dormido com meus pesadelos!

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