Havia uma menina chamada Corá. Ela termina a
história se chamando Perséfone. Sua mãe era Ceres. Que não era uma mãe normal, era deusa da
agricultura na mitologia romana. O pai não ficava atrás, era o todo poderoso
Júpiter. Ocorre que um tal de Hades – que era nome dado a um deus e ao local
para onde se dirigiam os mortos depois de, evidentemente, morrerem.
O Hades, local, era o espólio de guerra de
Hades, o deus. Assim como os oceanos eram o espólio de guerra de Neptuno –
divisão realizada depois da batalha vencida com os titãs. A vitória dos deuses
olímpicos sobre os titãs representou, dentro da História ocidental, o momento em
que a racionalidade passa a vencer os instintos. Assim sendo, dentro dos
limites “jurisdicionais” de Zeus não se incluíam nem os oceanos nem o reino dos
mortos. Apenas a terra dos homens e a morada dos deuses olímpicos. Ocorre que, dia desses, Corá, bela e inocente fazia um passeio quando
cruzou o caminho de Hades, que, acuado pela súbita paixão, arrebatou-a para
seus domínios.
Sem encontrar a filha, Ceres cai em depressão
profunda. O período culmina com um momento de fome entre os homens. Preocupado,
Zeus pede a intervenção de Hermes, deus ligado ao dom da palavra, para que tente
convencer Hades a deixar Corá voltar para Ceres. Obtém sucesso parcial. Hades
permite que Corá veja a mãe apenas durante um período do ano, o restante deverá
ficar ele. A situação, dizem, gerou a diversidade das estações do ano. O
período em que Ceres e Corá estão juntas corresponde ao período do plantio e da
colheita. A separação, residualmente, ao do estio. Importante: de toda a
História, que pode ter confundido nomes romanos e gregos de deuses, vá lá, sobra
o mito. O mito de Perséfone. Isso porque, para sair do Hades, Corá teve que
transmutar seu lado humano em divino. Assim, retornou dos infernos, sem morrer, e
com o nome de Perséfone.
Na astrologia ocidental, o mito de Perséfone
raptada corresponde ao mito do signo de virgem.
A intimidade virginiana com idas e retorno dos
infernos acabou chamando a minha atenção ao ouvir o inconfundível Charlie
Parker, gênio do jazz. O homem que se entupiu literalmente de heroína e, de
abraço em abraço no capeta, fez da dor sua eterna morada.
O inferno de Bird, apelido de Parker, foi a
versão bebop dos corrimões pelos
quais desceu tantas vezes Amy Winehouse. Degraus cujos pés de Freddie Mercury
percorreram.
E não haveria como deixar de citar Micheal
Jackson e Jesse James. O primeiro o mais funesto caso de uma vítima da cultura
pop; o segundo, um bandido capaz de dar as costas ao seu algoz. E como se a
vida parecesse a cada um deles uma licença poética ao inferno. Intimidade? Não
sei até onde chegariam. O inferno, no caso da relação desses nativos de virgo, é
mais embaixo.