
Não existe possibilidade de realismo ao se lidar com o real que se despiu de toda a fantasia. O real, nu, cru. E a vida de um policial é assim. Tão mais se tenta reproduzi-la, mais longe se está do que seja o conflito de quem combate, na ausência de fantasias, a madrugada incessante do crime.
Quer saber? A beleza de uma obra está no que ela não diz. Certa vez, vi uma análise do filme “Tubarão”, de Steven Spielberg. Trata-se de uma aula de cinema, porque o suspense se faz mais no clima do que pode acontecer do que por aquilo que efetivamente ocorre.
Pois saibam: a fantasia se faz no piscar de olhos. O momento em que o mundo fictício estabelece interlocução com a morada idílica, onde repousam musas, inspirações e antevisões, tecelões de nossos sonhos e, de quando em quando, a presa de uma pena artística qualificada.
Justifico minha tese, com cara de madrugada em plantão de delegacia, com o filme que acabo de assistir porque deixaram em cima deste meu balcão: “O Homem da Mancha”, de Arthur Hiller, com Peter O´Toole e Sophia Loren.
Nunca achei que a grandeza do “engenhoso fidalgo” pudesse ser dissecada por imagens e diálogos do cinema. E, para a minha surpresa, creio que o cineasta também. E , por isso, o filme é apenas um jogo entre a obra e a imaginação. Ele usa o mágico piscar de olhos diante da fantasia e nos convence a fazer uso dela. É obra-prima e ponto! Ao contrário de “Federal”, que é um fragmento narrativo coerente, mas nunca uma obra – porque não está em todos nós, como o está o Quixote, vejamos monstros, vejamos apenas moinhos de vento.
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