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quarta-feira, 29 de junho de 2011

O FINAL (QUASE) FELIZ DE UM PENTELHO BRANCO

Confesso que, durante algum tempo, fiquei impotente diante da possibilidade de encarar um devastador final feliz. Literatura é a vida. Final feliz e ficção. Em raros casos, encontram-se. E, em geral, consolida-se uma tragédia. Vamos aos fatos.

Benedito empunhava na mão, cujo indicador e o polegar formavam uma pinça, um cabelo crespo. O leitor óbvio já adivinhou se tratar de um pentelho. E branco. O título é franco. E assim iniciei meu atendimento a Benedito. Sujeito ainda novo.

- Sujeito ainda novo...Sabe, policial, quando querem ser gentis, as pessoas dizem que ainda somos novos. As palavras sobrevivem ao tempo. Nós, não. Sou cronista, o senhor sabia? E prometi a uma sacaninha que ela não valia uma crônica minha.

Assim como o cronista parecia se entreter filosofando sobre sabe-se-lá-o-quê, inspirado em um pentelho branco, eu me contive para não lhe falar: “caro cronista, lamento informa-lhe que sua profissão tem no tempo sua matéria, sua pauta. Seja o tempo da rapidez de um fato que escapa à maioria, seja o tempo que empalidece diante do tédio. 

Porque o tempo do cronista é sempre colorido. Não coincidentemente, crônica tem na sua origem a palavra Cronos, nada mais que Saturno, o senhor do tempo na mitologia”. E por que eu falaria uma merda assim para alguém, em plena madrugada. Iríamos nos perpetuar em uma maldita tertúlia. Voltei a prestar atenção “naquelezinho”.

- Não tenho nada para escrever dela, policial. Eu tinha. Tinha, sim. Ela era diferente. Autêntica. Dezenove aninhos e autêntica, segura, menina e já segura de si. Envelheceu com 25. Depois de seis anos, a gente se vê, finalmente, e ela envelheceu. Ficou velha. Ficar velho é ficar como todo mundo. Ela ficou como todo mundo.

- A polícia não para o tempo. A polícia para bandido. E para inocente. E o senhor? O que deseja?

- Registrar um desaparecimento de pessoa. Ela me encheu de porrada, cacete! A gente se encontra, depois de seis anos, e ela me enche de porrada. Me desmaiou em frente a um bocado de pessoas.

- Porrada?!

- Me deu uma gravata, um mata-leão. Apaguei.

- Lesão corporal. Quer registrar lesão corporal, é isso?

- Não. Desaparecimento de pessoas. Aquelazinha roubou minha menina. Minha lembrança. Colocou um brucutu de saias no lugar.

- Mais uma vez: polícia não registra poesia. Registra ocorrência.
Mais estranho que a presença do sujeito era me dispor a ver onde aquela conversa chegaria.

- Olha, companheiro, não tem como registrar o desaparecimento. Iria mobilizar uma cambada de gente apenas para dar conta do seu sofrimento. Mas me conta, o que fez a menininha sair do sério e lhe desmaiar?

- O crepúsculo do macho, o crepúsculo do macho. Eu achei que seria fácil minha cabeça moderninha suportar o tempo. Mas o crepúsculo do macho é mais forte do que a hegemonia do cérebro. Sim, a importância do homem cresce de baixo para cima. Eu conheci a menina quando era novinha. Nós nos separamos. Eu a achava nova demais. Ela, que eu era velho demais. Mas o que nos o desejo recíproco. Não me importor de ser velho. Mas dói é não ser desejado.

- Ué, mas ela não precisa gostar para sempre...

- Mas ela conversava com você. Talvez diga alguma coisa.

- Quando a gente quer, tudo, tudo diz alguma coisa. E sabe o que ela queria dizer? Sabe? Que não se impressionava mais comigo. Que eu era tão impressionante quanto café passado em dia frio. E tudo isso porque ela, ela está no auge do vigor físico,sexual...vinte e cinco aninhos. Entendeu? E eu passei de protagonista a lembrança. Uma baixaria. Soube disso tudo em meio a uma baixaria. Sabia que eu sou um babaca?! Sou, ela quem me disse. E repetiu, para ficar claro. Mas sepultou tudo com o um...”velho babão”. Nem se deu ao trabalho de ser original. Aliás, quis me colocar mesmo na porra da vala comum.

- E a polícia, onde entra?

- Quero minha menina!

- O senhor quer é seu tempo de volta. Mas não temos como recuperá-lo.

- Eu tenho uma pista de onde ele está. Se eu ajudar, o senhor tenta encontrar?

- Que pista é essa?

- Aqui!

Lá estava o exemplar descolorido de um pelo pubiano na mão do meu interlocutor.

- Depois de ouvir tudo o que ela disse, enchi a cara. Tomei todas. Quando acordo, de manhã, decidi ir ao banheiro. Para meu desespero, me deparo com um pentelho, mas não um pentelho qualquer. Um pentelho branco. Porra, branco! Como é que faz? Pinta? Corta?

É, caro cronista, a solução para o tempo é penteá-lo, quando restam cabelos. Mas minha filosofia sobre o tempo não se embrenha nos  vagos abismos pubianos. Assim, restou-me cordialmente lhe convidar a um retiro que começaria nos limites da porta (de lá para fora!) de minha delegacia. Só não lhe disse - e você descobrirá - que o branco, que lhe cobre cabelos e descolore o púbis, é uma cor que se forma da reunião de todas as outras. Seus pelos brancos são frustos de anos coloridos. Com essa resposta, despedi-me de você, e consegui destilar um certo mal gosto, capaz de colocar-me a salvo de um final totalmente feliz.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

INTUITO


                      Parabéns ao gesto delicado de estilhaçar meu telhado de concreto!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Desmoronou aos seus pés, anjo que era. Curvou-se diante daquele que via como a um Deus. Se dobrou os joelhos, caindo diante de seu Deus, de qual qualidade de anjo se tratava?"

quinta-feira, 16 de junho de 2011

SAGA DA FUGA DE UM OLHAR




Fácil ler sobre seu semblante a rota de fuga. Voam altos, gestos e hesitações. Construção de via no intervalo do abismo. Sede ligeira e corpo tardio. Ah, vida contraditória...

terça-feira, 14 de junho de 2011

O MILÉSIMO TURNO


- Aquilo é muita droga!
A referência ao blog Quinto Noturno chegou de bate pronto. Entorpeceu. Veio do amigo de longa data. Vasculhou meu projeto. E me fez lembrar o marca cabalística: mil visitações! Sim: um número considerável de pessoas deu-me a oportunidade de partilhar palavras, frases, idéias, visitando o blog. Mil visitações, justamente quando recebi a opinião sobre o blog. A crise de identidade a esta altura?
Não, não se trata de crise. Trata-se de um despertar repentino. O Quinto Noturno é um ego em construção, ebulição, conturbação. E, por isso, um grande espaço para ser impreciso e dependente da construção alheia de sentidos. Mas a vida é sentido que segue se construindo – podemos usar a definição, ainda, para o amadurecimento?!..
E não sou a bula ou a rota para o que escrevo. Nem sou o que pensam do que escrevo. Sou definitivamente O QUE ESCREVO... na maior parte das vezes. O sentido disso tudo cabe ao meu caríssimo leitor – alguns, posso afirmar categoricamente, eu os tenho...rs.. ­– que deverá dividir comigo o contexto das linhas e mergulhar na jornada individual de sua busca de sentido. Ok, ok...hoje estou repleto de hermetismos. Sei, admito. Mas a leitura mil, cabalística, libera todos os meus formatos e sentidos para um jactar-se sem compromisso.  Voltemos, pois, ao mundo prático.
E ele deu as caras cerca de uma hora depois da frase sobre o Quinto. Com um fato urbano, corriqueiro. Enquanto meu amigo se servia dos préstimos de um engraxate, notou a falta de sua carteira. Fora vítima de furto. Logo ele, que queria ajudar o sujeito, tentando dar-lhe a oportunidade de trabalho que eu recusara instantes antes. Aos solidários, aviso logo: o próprio meliante extraiu de sua caixinha de trabalho o produto de seu furto. Não houve, em nenhum momento, dúvida sobre a autoria.
Testemunha preferencial (todo policial é), dirigi-me com a estimada vítima a uma delegacia circunscricional. Plantão de sábado (e já passava de meia noite). Claro, já havíamos, antes de irmos à DP, pensado em deixar o punguista ir embora, tamanha a demora para a chegada de uma viatura da PM no local.
Mas a viatura chegou.
Na delegacia, foram três horas para registrar o furto da carteira. Ao mesmo tempo, plantonistas estavam envolvidos em uma ocorrência. Um rapaz havia morrido, aparentemente de overdose, e o plantão precisava dar conta do episódio. Alguns colegas me reconheceram. Tive a prioridade possível. Havia nossa ocorrência e a da morte. E, por algum motivo qualquer, o coordenador das equipes da Polícia Militar se encontrava no local, o que levou um dos soldados a comentar:
- A asa norte está completamente sem policiamento.
Bom, se o policiamento consistia em duas duplas de ronda, acredito que já estivesse a asa norte da capital do país já estivesse sem segurança desde muito.
Diante da tensão insuportável de todo ambiente, meu querido camarada estava a ponto de desistir de registrar o delito do qual fora vítima. Inconformado, pode finalmente sorver o que eu pretendia lhe mostrar:
- É esta a droga da qual o Quinto Noturno se entorpece!
Aqui estamos, diante de você, leitor mil, mil e um, mil e tantos. Você que é múltiplo na minha visão da droga do sono, cansaço, aborrecimento e vida. Obrigado e você que é mil e um, também. O de sempre, o que volta.
Continue voltando...no quinto noturno..Droga!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

DO TEU FLUXO

Meu corpo é aberto ao vasto e caudoloso ímpeto do teu espírito. Mas cristalizaram-se todos os teus amores. Vejo e lamento tua chama!

terça-feira, 7 de junho de 2011

SONETO À CURVA

NA CURVA, JÁ QUE TODOS SÚDITOS DO PERIGO, SOMOS MAIS QUE SEMPRE IRMÃOS

segunda-feira, 6 de junho de 2011

quinta-feira, 2 de junho de 2011

EM BUSCA DE UM HAICAI





TRISTE DA ESTRADA DE INFINITOS QUE PIGMENTA REMINISCÊNCIAS.
E TUA VIDA FOI ASPA...